Com a chegada da pandemia do novo coronavírus ao Brasil, desde meados de março de 2020, alguns estados brasileiros começaram a adotar o isolamento social. No Maranhão, a quarentena iniciou no mesmo mês, porém nem todos puderam permanecer em casa para esperar a curva de contaminação baixar ou alguma solução que acabasse definitivamente com o vírus causador da Covid-19.
Neste grupo, estão os profissionais de saúde que nunca antes, em mais de um século, passaram por algo tão desafiador e desgastante na área como a atual pandemia. O serviço de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, motoristas de ambulância, e outros tantos que trabalham em hospitais e clínicas, nunca foi tão exigido e reconhecido como agora.
Entre os trabalhadores que enfrentaram de perto o coronavírus está Márcia Cristina Monteiro de Jesus Aguiar, enfermeira e professora do curso de Enfermagem da Faculdade Florence. É com a entrevista de Márcia que a Florence dá início a sua série de entrevistas intitulada “Na Linha de Frente”, que ouve os depoimentos e experiências pessoais daqueles que, diariamente, têm enfrentado as adversidades impostas pela pandemia.
O papel da enfermeira Márcia na linha de frente da Covid-19 no Maranhão é na equipe do Centro de Saúde Genésio Ramos Filho, em São Luís, na qual atua como enfermeira mestre em gestão de programas e serviços de saúde e presta atendimento a pacientes sintomáticos respiratórios. Ela faz toda a acolhida do paciente e presta os primeiros cuidados básicos e também emergenciais, que vão desde a verificação dos sinais vitais, orientações e até suporte de oxigenação básico e medicação.
Faculdade Florence – Qual o momento mais intenso/difícil que você viveu neste período de coronavírus?
Márcia Aguiar – Creio que foi quando me vi e vi meu esposo e o filho mais velho com os sintomas. Foi muito difícil pra mim, cheguei até a solicitar transferência de local de trabalho, pois o estado emocional, como o sentimento do medo, tomou conta de mim e acabou me deixando bem fragilizada. Um dos momentos mais difíceis é o enfrentamento de muitas pessoas queridas e próximas partirem e, mesmo lutando para reverter o quadro, a sensação é de inutilidade frente a tantas mortes. Porém, procurei auxílio médico e psicológico, que faço até hoje, e não me afastei do meu trabalho e, graças a Deus, consegui superar. Inclusive, nesse mesmo momento fui convocada para trabalhar em outro hospital também, na comissão de frente da Covid, porém não compareci devido a estar muito preocupada e com medo desse enfrentamento, visto que dentro de casa estava vivendo a dor de muitos lá fora.
Faculdade Florence – O que te dá forças para continuar trabalhando nesta situação?
Márcia Aguiar – Primeiro lugar Deus, pois se não for Ele em nossas vidas não conseguimos dar nenhum outro passo, depois o apoio da família e, com certeza, o amor ao outro, o bem-estar do outro, enfim… Saber que, mesmo com tanta falta de estabilidade e recursos que vivemos nesse período, eu posso dizer: eu fiz o meu melhor, aquilo que estava muitas vezes até fora do alcance, em prol da recuperação do outro.
Faculdade Florence – Algum paciente que você atendeu tocou seu coração? Como? Por quê?
Márcia Aguiar – Sim, com certeza. Você ouvir que a pessoa sempre foi ativa e amar sua profissão e de repente sua logística tomar outro rumo porque essa pessoa está vivendo o medo constante e se vê paralisada e até depressiva é muito triste e emocionante.
Faculdade Florence – Para você, qual foi o maior aprendizado com a pandemia?
Márcia Aguiar – O reconhecimento de que precisamos muito uns dos outros, mais valorização da família e do amor ao próximo. E principalmente reconhecer que sem Deus nada sou e nada posso.