O trabalhador da construção civil Raimundo Nonato Silva, 51 anos, descobriu que tinha diabetes há cerca de seis meses, após exames num posto de saúde. Ele foi então encaminhado ao Programa Educação em Diabetes, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Saúde (Semus) no Centro de Saúde da Liberdade. Sem apresentar sintomas, Raimundo só se deu conta de que precisava de cuidados diários ao começar a tomar a medicação e compreender a doença. “Aprendi a medir minha insulina e a aplicar a medicação e em cinco meses a minha vida mudou completamente”, diz ele.
Raimundo Nonato é um dos 148 pacientes atendidos pelo programa e que receberam o kit com glicosímetro, caneta lancetadora, diário para anotação das glicemias e um manual educativo. O material é entregue aos pacientes de acordo com a portaria 2.583-2007, do Ministério da Saúde, que define o elenco de medicamentos e insumos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) aos usuários portadores de diabetes mellitus (ver quadro).
A enfermeira Aline Rocha Muniz Mendes, especializada em Educação em Diabetes, coordena o programa ao lado da nutricionista Érika Maria Frazão Carvalho da Silva e da nefrologista Lúcia Maria Baldez França Martins, ambas habilitadas em Educação em Diabetes. É justamente a formação em educação dessas profissionais que tem feito a diferença no trabalho que vem sendo realizado no CS da Liberdade.
Modelo de estratégia – Convidada a participar de um programa de qualificação profissional promovido pela Sociedade Brasileira de Diabetes em parceria com a Federação Internacional de Diabetes e a Rede Lationoamericana de Educadores em Diabetes, Aline Mendes reuniu-se a 80 profissionais da área e a 80 jovens portadores da doença, no início do ano, em Sapucaí Mirim (MG).
Na ocasião, ela apresentou os números do programa em São Luís e a forma como vem sendo feito. “Nossa preocupação é manter o paciente fora de risco. Por isso temos o cuidado de ensinar a utilizar o material recebido e os medicamentos de forma a promover a saúde dele. Esse cuidado na orientação tem sido importantíssimo para mantê-los fieis ao tratamento”, explica Aline.
A estratégia de reforçar o lado educativo do Programa de Saúde em Diabetes chamou a atenção de instituições de referência no Brasil. Os representantes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), do Hospital Oswaldo Cruz e da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ) %u2013 presentes na qualificação de Minas Gerais %u2013 saíram de lá com o propósito de recomendar a mesma estratégia aos programas de saúde em diabetes que desenvolvem.
“É motivo de orgulho para nós esse cuidado atencioso que o programa tem prestado à população, caminhando pelo viés da educação. Os resultados alcançados, inclusive de já ser referência no país, demonstram claramente o quanto é importante que a saúde caminhe lado a lado com a educação”, afirma o secretário municipal de Saúde, Gutemberg Araújo.
Os resultados alcançados no CS da Liberdade estão ampliando os horizontes do programa na rede. Atualmente, está sendo desenvolvido na Unidade Mista do Bequimão, no Centro de Assistência Integral à Saúde do Idoso (CAISI) e no Centro de Saúde Clodomir Pinheiro Costa (Anjo da Guarda). “A meta é chegar a todas as unidades da Estratégia Saúde da Família (ESF) na capital”, afirma Aline Mendes.
O programa – O programa está aberto a portadores de diabetes mellitus e consiste no monitoramento da glicemia, de acordo com a Lei Federal nº 11.347, de 2006. Para isso, o SUS disponibiliza medicamentos (glibenclamina, cloridrato de metformina, glicazia, insulina humana NPH e insulina humana regular) e insumos (seringas para aplicação de insulina, tiras reagentes e lancetas para punção digital e glicosímetro %u2013 aparelhos medidores).
Em São Luís, os portadores da doença devem se inscrever no programa e solicitar os insumos mediante apresentação de documentos que comprovam a ocorrência da diabetes mellitus, na Semus (Parque do Bom Menino). Em seguida, será encaminhado à equipe do programa, que determinará a unidade onde será atendido.
O agendamento é feito de acordo com a faixa etária e, para a primeira vez, a equipe do programa prepara um encontro com um grupo formado por pacientes de várias faixas etárias atendidas pelo programa. “É uma forma de mostrarmos, por exemplo, a um idoso, que há crianças em tratamento e que estão com a glicemia controlada porque fazem direitinho o controle”, afirma Aline.
Cada paciente tem uma rotina de acompanhamento personalizada. A cada atendimento, o usuário é submetido a uma avaliação, baseada nas anotações no diário e em consulta com as três profissionais do programa. De acordo com cada caso é orientada a dose de medicação para controle de glicemia.
Tem sido assim com a pequena Tacila Camila de Holanda. Com apenas cinco anos, há três ela foi diagnosticada com a doença e só há quatro meses ingressou no programa. “Mudou tudo. Agora ela tem todo o medicamento e já sabe, ela mesma, o que deve comer. Expliquei para toda a família tudo o que precisamos fazer para que ela viva bem, o que não pode comer e todas as orientações que a gente ouve aqui. Na verdade, minha vontade é trazer toda a família para aprender”, contou a mãe de Tacila, Maria Aparecida Silva de Holanda.
Diabetes mellitus
É uma doença que se caracteriza por um aumento anormal do açúcar (glicose) no sangue. A glicose é a principal fonte de energia do organismo, mas o excesso dessa substância pode provocar complicações à saúde, como infarto, derrame cerebral, insuficiência renal, problemas na visão e dificuldade de cicatrização em lesões.
Não há cura definitiva para a doença, mas se tratada de forma regular o portador pode ter saúde e qualidade de vida. Para tratar a diabetes é necessário conscientizar e educar o paciente para que tenha uma alimentação adequada para o seu tipo de doença e o seu perfil metabólico. É necessário ter vida ativa %u2013 praticar exercícios com regularidade, ter acesso aos medicamentos: hipoglicemiantes orais, insulina, e monitorar os níveis de glicemia.
Atualmente, a Organização Mundial estima que cerca de 240 milhões de pessoas sejam diabéticas em todo o mundo (6% da população).
FONTE – O IMPARCIAL
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