A Faculdade Florence tem a alegria de homenagear o Professor Ítalo Gustavo e Silva Leite, do curso de Direito, pelo lançamento de seu mais novo romance, A felicidade é um bem. O evento, será realizado no dia 3 de novembro na 17ª Feira do Livro de São Luís, na Praça Maria Aragão, será mais que uma simples celebração literária: é uma homenagem a um educador que revela-se também como um escritor sensível e profundo.
O livro, que se inicia com a frase impactante “É preferível a trivialidade de uma reportagem policial que o melhor ensaio acadêmico sobre a psicologia humana. Um jorra sangue; o outro engana a consciência,” oferece ao leitor uma jornada envolvente e reflexiva sobre a natureza humana e a história brasileira. O romance se passa em um cenário fictício onde o Brasil, após 1964, se divide em dois: Brasil do Norte e Brasil do Sul. Esse ambiente, marcado pelos conflitos de um grupo chamado Centelha, reflete as divisões e desafios históricos do país.
Entrevista exclusiva com o autor
Em entrevista, o Professor Ítalo Gustavo compartilhou reflexões sobre o processo criativo e as motivações por trás de A felicidade é um bem:
Pergunta: O que o motivou a imaginar um Brasil dividido em dois após 1964, e como essa divisão fictícia reflete, na sua visão, os dilemas históricos e sociais que enfrentamos até hoje?
Resposta: “O romance enredado nos dilemas históricos e políticos aludidos acima, parte da fictícia premissa que, em 1964, o Brasil se dividiu dois: Brasil do Norte e Brasil do Sul. E por meio dos desdobramentos das ações de um grupo guerrilheiro, o Centelha, o autor disseca a história de violência inerente a este conflito, tanto no nível de alguns destinos individuais como na dimensão da vida coletiva. Imaginei o Brasil distrópico, poderia ser qualquer lugar do mundo. Mas minhas leituras tais como Nelson Rodrigues, Antônio Callado, Clarice Lispector, Lima Barreto ajudaram a limitar o enredo num Brasil imaginário, mas ainda cheio de contradições e desigualdades; com violações graves dos Direitos Humanos. Não é um romance engajado, porque não acredito que a arte possa mudar a realidade. Pode esta ampliar nossas perspectivas em relação às coisas e às pessoas.”
Pergunta: A felicidade é um bem aborda temas como violência e conflito através de personagens complexos. Como foi o processo de criar essas camadas de narrativa e integrar elementos do jornalismo, direito e crítica dentro do romance?
Resposta: “A felicidade é um bem, é um romance híbrido em sua constituição. Por um lado, é uma obra que sobrepõe camadas discursivas em choque (discurso jurídico, jornalístico, crítico em paralelo com o ficcional); por outro, absorve técnicas composicionais de outras formas de arte. O título, inteiramente justificado ao fim da narrativa pode sem propósito explícito do autor ser enganoso. Nem é uma narrativa de autoajuda, nem tampouco uma história que invista na sutileza e antinomias de uma jornada interior. Não sou um guru, nem um psicólogo, embora, tento entender certos dilemas contemporâneos na medida do meu pouco conhecimento. Gosto de Céline, Dostoiévski, Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Kafka, Saramago, Valter Hugo Mãe, Marcelo Rubem Paiva, José Agrippino de Paula, e tantos outros autores. Portanto, o processo de criar essas camadas de narrativa e integrar elementos do jornalismo, direito e crítica dentro do romance foi algo a fluir naturalmente. O romance é hibrido. Há um prefácio, que não entrou nesta edição, a comparar a narrativa como J.J. Veiga e o Ignácio de Loiola Brandão, este autor do fabuloso Zero.”
Pergunta: Em seu livro, o título A felicidade é um bem parece ter um sentido que se revela no decorrer da história. Como você enxerga o conceito de felicidade dentro dos contextos históricos e políticos que explora na obra?
Resposta: “Há uma crença que subjaz à postura ética do narrador desta obra: a força documental superior da imagem sobre a palavra. Sim, isso a princípio é estranho ou inabitual: a literatura, arte da palavra, se hibridiza com o discurso visual; precisa recorrer à imagem para dar testemunho da verdade – e para fazê-lo altera a dinâmica do texto, já que em grande parte da obra a descrição vem ao primeiro plano, secundando a narração. O narrador fia a verdade do momento histórico às imagens fílmicas: Goddard, Glauber e tantos outros.”
Pergunta: Como sua experiência como professor de Direito na Faculdade Florence influenciou a construção das temáticas jurídicas e éticas presentes no livro?
Resposta: “Escrevi a primeira versão desse romance em meados de 2017. E deixei na gaveta, sempre o melhor caminho quando se escreve. Depois de um tempo o retirei da gaveta e o dei por terminado em 2022. Então, o escrevi quase ao tempo que iniciei minhas atividades na Florence. As experiências trocadas com outros professores, o contatos afetuosos com todas as pessoas favoreceram bastante para o termo desse livro. O ambiente acadêmico na Florence é bem favorável à arte. Há atividades diversas como Direito e a Sétima Arte, acompanhei uma palestra do Lênio Streck aqui na faculdade. Boas árvores costumam gerar bons frutos. Minha experiencia como professor ampliou minha visão de mundo e ajudou bastante na composição do livro.”
Pergunta: Que mensagem ou reflexão você espera que os leitores levem consigo após vivenciarem a história e os dilemas apresentados em A felicidade é um bem?
Resposta: “O título eu devo a um velho professor de melancolia chamado Francisco Pereira da Silva. Ele é professor de História da Universidade Estadual do Piau, ator de teatro e cinema (filme Cripriano é obra-prima). Foi diretor-geral do Grupo Teatral do qual fiz parte durante cinco anos. Lá aprendi muito. Adaptamos várias obras literárias para o teatro com o objetivo de levar aos vestibulandos um meio de ajudar na compressão das obras indicadas pelas Universidades. Escrevi O Corredor Polonês em 2005 e encenada em 2006. Dentre tantas conversas que tivemos guardei na memória sua ideia de um dia escrever um livro intitulado A felicidade é um bem. O fato é o primeiro título que dei a obra foi Terror, porém este livro a elaborar mais a linguagem; a começar pelo título; dizer as coisas mais graves numa forma branda, assim como faz Chico Buarque em suas canções e tantos outros. Na metade da escrita peguei no baú da memória o título do meu velho mestre. E nas minhas reminiscências capturei aquilo que ele me dizia: antes de ser um artista, é preciso ser um bom pai de família, uma pessoa de bem, porque a felicidade não estava em ter um apartamento de luxo, o carro mais caro do ano, mas sim em viver em paz, tendo a felicidade como um bem tal qual um apartamento de luxo, o carro mais caro do ano.”
Obra que Reflete Excelência e Inspira Pensamento Crítico
Com esta obra, o Professor Ítalo Gustavo reafirma seu compromisso com o pensamento crítico e sua habilidade em provocar questionamentos através da literatura. Mais do que um romance, a obra se revela uma crítica sutil e bem construída dos dilemas da sociedade brasileira, conectando temas históricos e sociais de forma universal e atemporal. Ao explorar os conflitos, as complexidades e os dramas humanos, Ítalo Gustavo oferece aos leitores uma experiência que vai além do entretenimento, despertando questionamentos sobre o valor da liberdade, a busca pela felicidade e as muitas facetas da condição humana.
A Faculdade Florence celebra não apenas o lançamento de um livro, mas a relevância de um educador que, com sensibilidade e talento, inspira seus alunos a enxergarem o Direito, a sociedade e o mundo sob novas perspectivas. Ao transformar questões jurídicas e éticas em uma narrativa envolvente, o professor reafirma o papel essencial da literatura na educação e na formação de cidadãos críticos. A Florence sente-se honrada em contar com um autor de tamanha profundidade em seu corpo docente e agradece por sua contribuição para a cultura e o pensamento crítico no ambiente acadêmico.
Que A felicidade é um bem inspire não apenas os leitores, mas também futuros escritores, incentivando-os a questionar, refletir e encontrar na arte um meio para expressar as complexidades e as nuances de nossa sociedade.